Filosofando durante a madrugada, olhando para uma coleção de quadrinhos elendo algumas postagens no facebook, me veio esse debate em minha mente que gostaria de compartilhar com vocês. Deixo está musica de fundo:
Estamos nos anos 90, um jovem estudante de colégio chamado X, esta animado.
Ele descobriu um tipo de jogo muito bacana chamado D&D, um jogo de
interpretação de personagens também conhecido como RPG. Ele está empolgado, já
que numa revista chamada Dragão Brasil ele leu e descobriu que pode ser
qualquer personagem de qualquer universo fictício, bastando adaptar a história
para o sistema. Pode ser Star Wars, X-Men, Cavaleiros do Zodíaco, tudo que ele
sempre gostou. Mas há um empecilho: para jogar ele precisa encontrar outros que
comprem sua ideia, que joguem juntos. X sempre foi tímido, ele tem dificuldades
de se relacionar com outras pessoas, seus gostos são muito específicos e não
são todos que gostam. Mas esse não é o maior problema, X sempre foi zombado por
não estar na moda, por não ser descolado e gostar de coisas ditas “infantis”.
Ele insiste com seus colegas de turma, e isso acaba se tornando mais chacota na
sua rotina já complicada. Os professores não intervém, já que X prefere guardar
a magoa pra si mesmo. Acaba por descobrir que um ou outro colega que também
sofre preconceito, gosta de sua ideia de jogo, mas não sabiam que ele existia,
por também serem fechados demais. Eles começam a conversar e se tornarem amigos.
Vão a eventos do submundo da cultura POP e conhecem outros que tem histórias
parecidas. Juntam dinheiro para conseguir itens difíceis de encontrar. Alguns,
só quando parentes viajam para fora e trazem camisetas, jogos, brinquedos e
outros colecionáveis de presentes ou encomendados. X e seus amigos, conhecem na
internet outras pessoas que gostam dos mesmos gostos que eles e seus colegas de
eventos apreciam, assim, começam a se instalar em sites do tipo fóruns.
Animecon é um exemplo desses encontros. Idealizado por Sérgio Peixoto, editor da revista Animax, o Animecon (São Paulo –SP) em suas várias edições foi um dos ápices para o encontro dos fãs de cultura japonesa. A maioria dos eventos Pop ainda hoje se baseia nesse formato.
Outros eventos importantes, por exemplo, eram os encontros do Conselho Jedi - RJ, fã-clube dos aficionados por Star wars. No Video, a Sessão de estreia do Filme SW: A Ameaça Fantasma de 1999 no Cine Leblon, Rio de Janeiro –RJ.
20 anos se passam. X se lembra de todas as dificuldades que enfrentou,
e continua junto a seus amigos, uns novos e outros antigos cultivando seu
hobby. Mas o mundo de X mudou, ele começa ver em grandes lojas, vários produtos
de suas séries favoritas, camisetas, bonés, peças colecionáveis, cards... Até livros
endo lançados por grandes editoras. Ele começa a ver pessoas que outrora se
desfaziam dele por seus gostos, a vestirem camisetas de personagens os quais, X
sempre quis usar na sua adolescência mas não podia, pois não existia e quando
achava alguma coisa relacionada, tinha medo de usar e ser mais descriminado. Ele não entende esse mundo... E começa a se
perguntar o que houve.
Comic Con XP, Jedicon, Brasil Game Show ... retratos dos eventos modernos.
Muito mais publico, muito mais investimento.
A história de X é um
compilado de varias histórias distintas, que ouvi ao longo dos anos. Você se
reconheceu como X? Bom, eu também. Um pouco de mim está nessa história, assim
como um pouco de você também deve estar. Seja Nerd, geek, gamer, rpgista,
fanboy, otaku, rockeiro, ou qualquer outro rotulo que se sinta confortável em
usar. Mesmo que não seja necessário, afinal somos pessoas comuns, só nossos
gostos que não batem com a grande massa ao nosso redor. Não precisamos de
tarjas para ser quem somos, não somos pessoas doentes com laudo médico. Mas
parece que tivemos durante um tempo que usar para encontrar nossos pares no
mundo.
Hoje em dia não precisamos mais.
É
estranho, mas parece que pessoas com essas alcunhas, acabaram recebendo uma “anistia
social”. Quero dizer, não seriam mais discriminadas. Outras pessoas que nunca
ligaram para isso entrariam nessa roda, mas tudo que passaram seria esquecido
durante essa anistia.
Meus sentimentos são um tanto confusos quanto a isso e essa
maior massificação de cultura pop ou “nerd” (como é descrita por ai). Por um lado, é muito bacana poder ir numa loja
de departamentos e encontrar uma camiseta com seus temas preferidos, encontrar
pessoas que vem falar com você sobre algum assunto bem especificoe não depender
de fóruns fechados para conseguir informações de alguma série. Por outro, vem
um pouco de frustração em ver aqueles que tinham preconceito bobo com os
outros, entrando nessa onda por estar... na moda. Sim! Heróis, quadrinhos,
jogos, RPG, animes se tornaram moda. Grandes visionários dentro de empresas
perceberam o quanto o publico desses nichos gostava de gastar com as coisas que
gostava. Se tinham dinheiro para comprar um Revoltech do Japão, mesmo com as
taxas de compras internacionais, eles gastariam aqui no Brasil. E claro, se
sentiram reconhecidos, finalmente existiram para a sociedade. Por tabela, o
resto da sociedade era um mercado ainda inexplorado pelas empresas especificas
desses nichos. Bastava uns acordos aqui e ali, (leia-se estúdios de Hollywood) para chamar a atenção
de uma grande massa.
Deu muito certo.
Hoje é difícil encontrar alguém com menos de 20 anos que não
saiba que são os Vingadores ou os Jedis e Siths, e até a rixa antiga de Nintendo VS Sega do passado.
Junto a uma tsunami de informações vastas vindas pela internet, veio uma
enxurrada de merchandising pronta para ser consumida. Facilidades que X nunca
imaginaria na sua infância ou adolescência. É um forte paradoxo, mas muitos antes
chamados de “nerds” pejorativamente, que agora são chamados de “nerds” como
elogio pelo seus gostos, se segregaram mais das outras pessoas afinal, elas
nunca passaram por certas dificuldades, não que isso seja algo positivo. Mas
foi algo que marcou a vida de muitos.
Quem imaginaria a 10 anos atrás ou menos, encontrar essas estampas de camiseta como numa loja de departamentos como as Lojas Americanas?
Será que não valeria a pena um esforço de memória e falar um
pouco do que pessoas como X sofreram em seu passado? OU seria melhor esquecer e
aproveitar essa onda e surfar nela?
Pessoalmente, tento esquecer qualquer tipo de preconceito e
aproveitar o momento. Mas como disse anteriormente, sentimentos aqui são
mistos. Estamos em época de carnaval (para o meu desgosto) e fui chamado para um
bloco “nerd”. É em essência como qualquer outro bloco de carnaval, mas ao invés
do samba e das marchinhas se toca musicas de series, desenhos e filmes que marcaram.
Uma playlist bem nostálgica por sinal. Junto a isso, pessoas fantasiadas desses
temas. É uma ideia bem interessante se não fosse por um mero detalhe...
Quase ninguém que tem esse tipo de gosto por cultura POP, se
interessa por carnaval.
Trocando em miúdos, é apenas uma desculpa para tentar juntar
mais gente para a “festa”. E acaba por se tornar uma total banalização do
publico. Não chega a ser um desrespeito, mas a ideia não me agrada. Não
combina, não entra na equação. Toda a consideração para quem gosta da folia.
Mas não, não tenho o menor interesse nisso. Divirtam-se por mim, em quanto assisto
um filme no ‘PopCorn Time’.
Para aqueles que passaram anos se divertindo isolados, encarar essa multidão, parece um pouco amedrontador, não?
O texto se tornou mais longo do que imaginava, mas lembrando
que um amigo me falou que acho importante ressaltar aqui. Os tempos mudaram, e
todo tempo de mudança é conturbado. Ele me falou isso quando se referia a política,
eu trago para este viés social, desejando que outros que gostem desse mundo de
cultura de massa, sejam mais felizes que no passado, e que os fãs da cultura POP (ou“nerds”se preferirem) que estão a surgir, aproveitem ao maximo as facilidades
dessa nova geração.
Saudações de Algol!
Dessa vez, tu escrevestes com sentimento.... isso é bom... deu para entender a sua frustração..... mas relaxe... isso vai passar... :D
ResponderExcluirBelo texto, Wren!
ResponderExcluirImpossível não se identificar!
Sabe, eu já fui muito discriminado simplesmente porque fazia questão de ser EU MESMO. Fui o primeiro da minha turma a deixar o cabelo crescer, a usar brinco, a usar camiseta de rock...
Eu era aquele típico cara que era zuado na escola porque gostava de games, de rock, de quadrinhos...
A galera da escola gostava de ir em danceteria pra pegar as menininhas, usar roupa de marca, cabelinho arrepiado, etc. E eu não tava nem aí pra essas coisas. Vocês não imaginam o choque que eu causei quando apareci na escola com uma camiseta do Iron Maiden, quando o uniforme deixou de ser obrigatório na oitava série...
Era sempre o último a ser escolhido para o time de futebol na aula de educação física. Mas quando chovia e a aula era no salão de jogos, ninguém me tirava da mesa de futebol de botão. Mesmo assim, me chamavam de viado por causa do meu cabelo, de Nerd, no sentido pejorativo mesmo, simplesmente por tirar notas altas. Na década de 90 não tinha esse negócio de bullying. Cansei de chegar na direção da escola e ouvir que o culpado era eu por ser diferentão.
Mas eu superei tudo isso... Simplesmente passei a não ligar e continuei sendo eu mesmo. Passaram os anos e as coisas foram mudando...
Recentemente um moleque de 17 anos, na maior cara de pau, veio me questionar sobre meu gosto mudical e sobre meu apreço por videogames antigos da Sega e, querendo se crescer, disse que ele é a maior autoridade em Sonic do Brasil, que manjava tudo de videogames antigos, que era um Youtuber famoso, que o rock tava por fora há décadas e que ele era o dono da razão!
Eu simplesmente disse que tenho a idade dele só de estrada no rock, tocando profissionalmente na noite paulistana, sem dar mais detalhes... E sobre Sonic, só precisei falar que acompanhei pessoalmente e com gosto o lançamento do Sonic 1 em 1991, com meus 10 anos de idade...
Essas coisas que acontecem hoje me deixam chateado porque todo mundo quer ser Nerd hoje em dia... Ser Nerd hoje é super legal, super descolado... Mas o bullying que o Nerd que hoje tem 30 anos passou na década de 90 não foi nada legal...
Acontece que hoje tá tudo muito fácil
, a molecada joga a vida no modo Very Easy... E se acha o máximo!
Às vezes eu penso que o bullying dos anos 90 deveria ser uma espécie de treinamento obrigatório pra essa geração nova, pra dar valor ao que realmente é ser Nerd. Dar valor ao que realmente é defender o seu gosto pessoal e não abrir mão disso por causa de uma modinha... Quero ver quem gostaria de ser Nerd assim...
O que o indivíduo X passou o Indivíduo Z também passou ele gostava de ilustração e arte ao ponto de incomodar os colegas que não conseguiam compreender o Gosto do Indivíduo Z,
ResponderExcluirele tinha que ser um excelente artista e compreender por uma empatia quase que sintetizada ao gosto de seus "colegas", ele também percebera, que os indivíduos como X e até outros estilos como o Y existiam porém, ele não interferia na vida destes indivíduos porque sabia que cada um passava por sua batalha de busca a enriquecer seu conhecimento cultural na qual os satisfaziam em uma catarse quase que diária para suportar a ilusão que a sociedade depreciadora de tempo realizava e hoje o indivíduo Z observa a sociedade consumindo uma cultura outrora, desvalorizada e posta a baixo de pessoas felizes, pessoas bebendo essa cultura como se ela sempre fosse entreguem em cada esquina, pois digo ao x que ele nunca esteve sozinho nessa observação hoje x tem uma consciência de nível muito mais elevado e pode sim mostrar o que é real como esse incrível post e o que é fake que vemos todos os dias como um deposito de lixo que se despeja infinitas vezes na mesma região a dos que não valorizam o verdadeiro e único sentido da busca pelo entretenimento de qualidade.
Saudações a Algol
Belo texto e reflexão do mundo nerd atual. Antigamente o mercado nerd não gerava tanto dinheiro como atualmente e creio que com o avanço de tecnologias como os computadores e os nerds virando chefes e donos de empresas milionárias, era de se esperar que todo mundo ia querer entrar na farra e pegar um pedaço do bolo.
ResponderExcluirEntretanto, como toda moda que espalha e generaliza, mundo nerd teve o lado bom já que temos como comprar e conseguir produtos dos jogos e personagens que gostamos com mais facilidade, e infelizmente uma generalização que fizeram qualquer um ser nerd só por ter um blog, conhecer um filme ou algo do tipo.
As coisas do jeito que estão não tem volta, vai ser assim e vai continuar assim por um bom tempo. Enquanto não existir alguma outra invenção que consiga ser mais forte e popular que os nerds atuais, vai ter Jedi pulando carnaval.